sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O policial ou A Aventura - Parte VI



São agora 11 horas do sábado 6 de outubro e estamos ancorados em Assuan, a cidade da famosa represa construída na década de 70 do século passado e para cuja construção foi necessária a remoção do templo de Abu Simbel para algum lugar no deserto que fica a cerca de umas 3 horas de transporte terrestre daqui.

Como programa opcional foi-nos oferecida a oportunidade de ir visitar Abu Simbel a módicos 85 € por pessoa. Para tanto ter-se-ia- de levantar às duas e meia da madrugada, enfrentar uma viagem de 3 horas de ida e mais 3 horas de volta. Nem Katrin nem eu nos interessamos por esse programa. Mas, não coloquemos a carroça adiante dos bois.

Em alguma hora da quarta-feira de madrugada o navio atracou em Edfu, uma aldeia às margens do rio onde há um templo a ser visitado.

No mesmo esquema do dia anterior, pontualmente às seis horas toca o telefone despertando o turista ávido por conhecer as divindades egípcias, que nessas alturas teve ainda umas duas horas para dormir de novo já que por volta das quatro e pouco da manhã foi acordado pelo muzaidim chamando para as orações: o navio atraca bem defronte a um minarete! Depois do café-da-manhã, deixamos o navio pontualmente às sete horas, desta vez rumo a uma charrete que iria nos levar ao Templo de Horus.

Defronte ao ancoradouro havia uma legião de charretes esperando para levar os turistas ao Templo de Horus.
Charretes com turistas rumo ao templo de Horus em Edfu
Entrada do templo de Horus
Mohammed explica que esse templo é relativamente recente, construído na época dos gregos, ou seja cerca de 200 anos A.C. Diz também que até há uns 200 anos o templo era uma espécie de cortiço, já que ninguém mais se interessava pelos antigos egípcios e que a redescoberta dessa cultura para o mundo moderno se deve a Napoleão. A conferir.

O que mais me chamou a atenção nesse templo é que os rostos das criaturas nos desenhos das paredes são todos destruídos, até os bem ao alto. Alguns dos ocupantes do templo devem ter feito isso. Um horror.
Os rostos da pessoas estão todos destruídos
Enquanto Katrin e Luis ainda ficaram andando pelas colunas do templo, sentei-me à entrada ao lado de Mohammed e ficamos observando um gatinho por lá estava. Mohammed disse que o gato era uma estrela internacional e o gato mais fotografado de todo o Egito pois não havia turista que não parava para tirar uma foto, que daí iria rodar o mundo inteiro.
O artista internacional: gatinho no Templo de Horus em Edfu  
Quando Katrin e Luis chegaram voltamos para o navio de charrete andando por ruas cheias de gente, uma gente estranha, tão distante de minha realidade, o que sempre me fascina. O que no Brasil seria chamado de camburão, aqui é transporte urbano: uma camionete com a parte de trás com assentos para passageiros.
Passageiros no camburão
O cotidiano nas ruas de Edfu
De volta ao navio, fui ao deck onde comecei a escrever o texto de ontem e a viagem continuou rumo a Kom Ombo, onde deveríamos então visitar mais um templo.

Nisso aparece Katrin dizendo que não iriam mais visitar templo algum pois Luis havia adoecido com vômito e diarréia, a maldição dos faraós.

Já desde que chegamos ao navio, em todos os lugares há escrito que a água das torneiras serve apenas para higiene pessoal e não é potável. Também em alguns guias de viagem há a observação sobre os cuidados que se deve ter com a água no Egito. De onde veio a doença de Luis não sabemos, mas o menino de noite até febre teve.

Com isso Mohammed disse que a visita ao templo seria adiada para o sábado, quando então novamente passaríamos por Kom Ombo. Assim continuei no navio, sem programa e apenas observando o vai-e-vem das pessoas no ancoradouro.

Observo então uma cena que tanto na Alemanha e penso que também no Brasil que conheço seria impensável. Por cá há policiais vestidos de branco, portando metralhadoras. No ancoradouro um policial passeia com sua metralhadora e seu quepe na mão direita e o celular ao ouvido na mão esquerda.

De repente ele senta-se em cima do quepe e continua falando ao celular. A metralhadora descansa a seu lado.

Nisso surge um conhecido que ele levanta para cumprimentar com beijos (infelizmente essa foto ficou muito ruim). Continua segurando o celular na mão mas a metralhadora fica ali descansando no chão, enquanto os turistas passam felizes e contentes à sua frente.

O conhecido vai embora e ele torna a se sentar sobre o quepe que ficou ali na pedra ao lado da metralhadora e volta a falar ao celular. A metralhadora quietinha lá parada a seu lado onde ele a havia deixado.
Em algum momento ele resolve brincar com a metralhadora enquanto fala ao celular e a traz para sua frente.
Encerra a conversa e procura no celular um novo interlocutor. A conversa ao celular parece ser animada como a anterior. A metralhadora permanece apenas como um brinquedo em suas mãos.
Uma pena que algumas fotos bem significativas dessa seqüência ficaram muito ruins, uma vez que estava escurecendo e a luz já não permitia boas fotos. Deixei o policial lá falando ao celular e brincando com a metralhadora. Entre a primeira e última foto da cena passaram-se dez minutos, uma eternidade se a gente considerar o que tudo alguém com intento terrorista poderia ter feito em um minuto com uma metralhadora dessas num ancoradouro cheio de navios de turistas. Ou será que a metralhadora era de fato somente de brinquedo?

A foto do lindo por-de-sol foi anterior à seqüência com o policial, com o que se pode ter uma idéia da baixa qualidade da luz para as fotos do policial, infelizmente. Escurece cedo e depressa no Rio Nilo.
Por-do-sol em Kom Ombo
Depois de os visitantes do Templo de Kom Ombo terem retornado, o navio prosseguiu sua viagem até Assuan. Não vi quando chegamos.

Depois do jantar havia uma festa no deck do navio, onde os argentinos vestiram as roupas que no dia anterior haviam comprado dos vendilhões na eclusa e se divertiram a valer. Eu preferi me recolher e dormir o sono dos justos.

No dia seguinte Mohammed disse que tinha duas notícias para nós: uma boa e uma ruim. A boa era que os argentinos iriam embora naquele dia. A ruim é que seriam substituídos por chineses. Como já disse em outro lugar, nobody is perfect e assim teríamos de conferir o que seria melhor: 20 argentinos ou 39 chineses. Emergentes eram ambos os grupos.

Luis e Katrin apareceram pontualmente para o café-da-manhã e Luis, apesar de ter tido febre de noite, já estava com uma aparência bem melhor. O programa daquele dia iríamos fazer junto com um outro grupo de alemães do navio e Mohammed não iria nos acompanhar. O nosso guia seria então Nasser, que nos levaria de barco ao Jardim Botânico e à aldeia núbia. Mas isso é uma outra história.

Clique aqui para ler a Parte VII



Um comentário:

  1. Oi Renate!
    Teu policial é uma maravilha. Da até de sentir que ele estava fazendo girar a metralhadora em volta de seu eixo, hem? Você, lá da tua janela, não ficou com medo de uma bala perdida?
    Quero mais, quero mais...
    Abraços,
    Marilia

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